Acabando por desviar o caminho da casa da nova coleguinha, indo diretamente para a famosa casa de doces na floresta. Achei que havia sido deveras rude com a moça, a deixando plantada. Talvez nesse momento ela estaria fazendo outras coisas de sua vida, mas isso não tirava minha culpa e falta de consideração. Entrei a casinha, e sentei no sofá de jujuba, colocando as pernas em cima da mesinha de centro feita de chocolate, acendi o abajur alto de pirulito de coração e liguei o rádio de bis com musicas antigas dos anos 20. A que tocava no momento era
La Vie en Rose de
Edith Piaf. Cantarolava a musica com sibalas como "la" e "ra", e as vezes, simples "rum". Estava relaxado. Lembrei de coisas do passado, e enfim levantei dançando sozinho, deslizando no chão investido com azulejos de caramelo. Passando por fotografias na parede impressas com corantes alimentícios e emolduradas com marshmallow's coloridos em formas de aspirais.
Confundindo-me próprio com um tolo apaixonado que viaja em seus próprios pensamentos valsando com o vento ao som de uma romântica musica francesa. Naquele mesmo instante senti a solidão, e com a solidão, a necessidade de um parceiro. Apenas caiu brevemente em uma duvida: procurar a bela mulher que já o conhecia, mesmo ele nem lembrando-se dela; ou procurar alguém para suprimir suas necessidades de batalha e também social, que não o conhecesse. As duas opções me guiaram ao medo. O medo de ser traído.
Após alguns rodopios, trocou a canção.
Everybody Wants to Rules the World, por
Tears For Fears era exatamente o que começava a tocar. Segui até a cozinha, pegando uns morangos com creme de leite na geladeira, comendo na tigelinha, usando as mãos mesmo. Sentei-me à mesa feita de uma placa de caramelo vermelho sustentada por uma maça do amor grande. As cadeiras eram feitas de pirulitos vermelhos com jujubas como estofado. A cozinha era toda investida em tons vermelhos, com detalhes de maça. Talvez a parte mais "saudável" de meu lar. Os segundos passavam rápidos, assim como as musicas. Cantarolava todas, como se conhecesse todas as musicas que poderiam tocar naquele rádio deliciosamente barato. A atual musica, pelo incrivel que pareça, não havia nada a ver com as atuais;
Hit the road Jack, de
Ray Charles - quebrando a situação mais homo afetiva que poderia haver naquele horário do dia. Chupava meus dedos sujos de creme de leite com um tal gosto, como se fosse a melhor coisa do mundo.
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Pois é... Peguei alguns pirulitos, e parti para o centro da vila.